domingo, 12 de abril de 2009

A EUROPA E O NOVO MUNDO


A EUROPA E O NOVO MUNDO
Novo Mundo é um dos nomes dados à América pelos europeus na época do seu descobrimento. O continente era novo para os europeus em comparação com o Velho Mundo que ja conheciam: Europa, Ásia e África.
A denominação está em uso desde o século XVI. Após a primeira viagem de Cristóvão Colombo, Peter Martyr d'Anghiera se referiu a Colombo em uma carta como o descobridor do "Mundo Novo" (novi orbis).
O imaginário europeu, as visões sobre o “Novo Mundo” e suas gentes
WANESSA DE SOUZA
Nos séculos XV e XVI, quando ocorreram as grandes viagens marítimas, os
europeus se depararam com realidades que eram bastante estranhas para eles. O oceano era um lugar onde reinava o imprevisível, ou seja, os navegadores não tinham certeza do que poderia acontecer, nem do que poderiam encontrar pelo caminho. As informações que eles tinham haviam sido retiradas, em sua maioria, de livros de outros navegadores, como por exemplo Nicollo Matteo, Marco Pólo, etc.
Mas tais informações eram povoadas de mitos e superstições. Assim, ao artirem para as grandes viagens pelo oceano, os navegadores tinham em mente as informações de livros sobre viagens e também suas próprias crenças e mitos, que desde a Antiguidade povoavam seus pensamentos.
Essa informações míticas e supersticiosas pertenciam quase todas à tradição
grega: Ctésias de Cnido em 398 antes de Cristo, já escrevia sobre a existência de raças fantásticas como os ciápodas que possuíam um único e grande pé, os homens peludos, sem cabeça, e que tinham os olhos nos ombros, etc; Plínio, em 77 depois de Cristo, também escrevia sobre os monstros e maravilhas que foram avistadas na Índia, como seres antropófagos (que comiam carne humana), seres andrógenos (que possuíam os dois sexos), etc.
E tais informações foram sendo adaptadas ao longo do tempo. Porém, em geral, mantiveram-se quase sem alterações até o século XVI. Dessa forma pode-se entender o fato de os navegadores europeus terem visto sereias, antípodas (criaturas com os pés virados para trás), cinocéfalos (criaturas com corpo humano e cabeça de cachorro que comiam carne humana), ciclopes (monstro caracterizado por ter um único olho no meio da testa), e outras tantas criaturas monstruosas e maravilhosas, quando viajaram por regiões desconhecidas.

Nessa imagem estão retratados alguns monstros que os
europeus (sobretudo os portugueses e espanhóis)
acreditavam existir. Até os séculos XV e XVI, quando
ocorreram as grandes viagens marítimas, acreditava-se
que esses monstros habitavam a região das Índias.
Porém, a medida que os navegadores foram chegando a
tais regiões e desmistificando-as, passaram a acreditar
que as criaturas monstruosas estavam em outras terras
que ainda eram desconhecidas. Dessa forma o oceano
Atlântico e o “Novo Mundo”, ou o Continente Americano,
passaram a ser o reduto onde habitavam esses
monstros.2
O imaginário, ou seja, o conjunto das idéias e imagens que faziam parte da mentalidade dos europeus, foi projetado sobre aquilo que eles viram de
diferente durante as viagens pelo mar, e também ao entrarem em contato com terras desconhecidas. Dessa forma, quando eles chegaram às terras que mais tarde chamaram de Continente Americano, tudo aquilo que havia de Exuberante ou de estranho foi identificado com as imagens que já lhes eram familiares. Aquilo que já fazia parte do pensamento cotidiano dos europeus
projetou-se sobre a realidade que estava diante deles e, dessa forma, eles puderam entendê-la. Foi por causa desse tipo de identificação que os europeus viram no “Novo Mundo” vários monstros e criaturas fantásticas e maravilhosas.
Foi também por causa dessa identificação que os europeus acreditaram ter chegado ao Paraíso Terrestre (que era o lugar onde se encontrava o estado original do mundo, ou seja, onde se encontravam a ausência do pecado
original, a pureza e a liberdade). A natureza exuberante e os bons ares eram características que contribuíam para que o “Novo Mundo” fosse associado ao Paraíso. Comparando-se as características das novas terras com as paradisíacas e encontrando semelhanças entre elas, os europeus logo fizeram uma associação. Dessa forma, ficava mais fácil entender a existência dessas novas terras. Mas o Paraíso nem sempre foi identificado com o Novo
Mundo. Ele migrava de uma região para outra, conforme os europeus iam descobrindo e conhecendo lugares novos: ele esteve no oriente, no meio do oceano, no Novo mundo etc.
Se existia a idéia de Paraíso, existia também a idéia de inferno entre os europeus contemporâneos ao período das grandes viagens marítimas. Eles eram homens profundamente religiosos e seus pensamentos eram marcados por uma constante luta entre o bem e o mal. Dessa forma, no Novo Continente não foram identificadas apenas características paradisíacas, como a vegetação exuberante, por exemplo, mas também demoníacas, os inúmeros insetos e animais peçonhentos, o forte calor e, principalmente, os costumes das gentes da terra, ou seja, dos indígenas.
Os indígenas foram também relacionados com seres que estavam presentes no imaginário dos europeus: suas características assemelhavam-se às dos “homens selvagens” que habitavam livremente os bosques, gozando de liberdade e vivendo com base em seus instintos. Todas essas características eram contrárias ao ser humano cavalheiro e cristão que os europeus tinham como modelo. Os rituais dos indígenas, suas danças, sua nudez, suas práticas sexuais, sua preguiça, seus deuses, suas práticas religiosas, foram vistos pelos europeus como ações demoníacas, sobretudo o ritual antropofágico, no qual se comia a carne humana.
Contudo, deve-se ter em mente que essas características que se atribuíam aos
indígenas têm uma razão de ser, pois aqueles que escreviam sobre o modo de viver do índios tinham uma visão centrada na religiosidade e nos padrões de vida europeus.
Além disso, a identificação do que existia no imaginário europeu com a realidade contribuiu para que o diferente não fosse visto realmente como era, mas sim filtrado por algo que já era conhecido e comum.
Dessa forma, pode-se perceber que os europeus não viram os indígenas como
seres humanos com um modo de vida diferenciado, mas identificaram-nos com os “homens selvagens”, desclassificando seus costumes e hábitos. E, do ponto de vista espiritual, os europeus consideraram as práticas indígenas demoníacas, identificando suas ações religiosas com bruxaria, feitiçaria e outros tantos rituais anti-cristãos, que já faziam parte de sua mentalidade. Assim, eles conseguiram dar sentido à existência de seres humanos em uma região que, com base nas informações que tinham, não podia só podia ser habitada por monstros e criaturas maravilhosas.
Pode-se, por fim, concluir que a visão que os europeus tiveram do Novo Mundo
e das gentes que o habitavam estava fundamentada no imaginário europeu que era marcado pela religiosidade e pela crença em uma série de mitos e superstições. Todas as imagens que permeavam o pensamento dos europeus, entre os séculos XV e XVI, acabaram sendo associadas à realidade do Novo mundo, de forma que ele pudesse ser entendido. Assim, as idéias de bem e mal, de Paraíso e Inferno, conduziram a visão que foi lançada sobre as novas terras e aqueles que a habitavam, ora idealizando-os, ora detratando-os.

MAPA MUNDI SÉCULO XVII

Personagens que mudaram a História da Inglaterra: Henrique VII; Rainha Elizabeth e Jaime I



A REVOLUÇÃO PURITANA - INGLESA SÉCULO XVII

Antecedentes das Revoluções Inglesas
INTRODUÇÃO

"Nos fins do século XVI a terra passou das mãos da alta aristocracia à gentry (pequena e media nobreza rural), e das mãos de uma multidão de arrendatários jornaleiros, emparedados entre preços e rendas em alta inflacionista e salários estancados, às dos camponeses proprietários e terratenentes (yeomen). A terra também passou aos comerciantes, sobretudo aos pequenos (cujas margens de lucro aumentavam com a inflação) e aos mercadores mais ricos (que exploravam lucrativos monopólios comerciais). Por outra parte, também cresceram notavelmente o número e a fortuna dos juristas de prestígio. Em resumo, o que se produziu foi um deslocamento maciço das riquezas da Igreja e da Coroa, e das pessoas muito ricas ou muito pobres, para as mãos da classe média e da classe média alta".
Lawrence Stone La Revolución Inglesa, in Revoluciones y
Rebeliones de la Europa Moderna - Madrid, Alianza Editorial, 1978


ANTECEDENTES SÓCIO-ECONÔMICOS

A expansão do mercado de terras no continente europeu em meados do século XVI ocorre de forma diferenciada. Enquanto que na França esse fenômeno foi responsável pelo fortalecimento de relações feudais, na Inglaterra, ocorreu exatamente o contrário, resultando no crescimento de características rurais capitalistas que transformaram a terra numa mercadoria. O aumento dos preços dos derivados agrícolas e do consumo de matérias-primas e alimentos contribuía para valorizar o preço da terra. Aproveitando-se dessa situação, tanto os grandes como os pequenos produtores rurais, tentaram tirar vantagens ampliando suas posses através dos "cercamentos" (transformação da posse das terras coletivas, em propriedade privada). O Estado, por sua vez, para preservar seus interesses, impedia o avanço dos cercamentos e passava a enfrentar a oposição da "gentry" (nobreza rural mais progressista) e dos "yeomen" (camada mais rica dos pequenos e médios proprietários livres).
Nesse período, a Inglaterra passou a ser a segunda potência marítimo-comercial, ficando atrás apenas da Holanda. Sua indústria têxtil era a maior da Europa, além de representar mais de 4/5 da produção de todo carvão do continente. Os nobres que se voltaram para essas atividades se enriqueceram, enquanto que os outros se empobreceram e perderam suas terras para gentry. Entre os camponeses, enquanto os yeomen prosperavam, a maioria se empobreceu e submetida ao processo de cercamentos das propriedades (enclousures), engrossou o contingente de pobres urbanos. Os cercamentos eram quase sempre apoiados pelo Parlamento, apesar da omissão da Coroa. Foram praticados por todas as classes proprietárias, desarticulando a comunidade aldeã e separando o camponês da terra. Essa realidade fez com que na Inglaterra, os camponeses precocemente deixassem de ser uma força política. Nas primeiras décadas do século XVII, enquanto massas de camponeses estavam em revolta na França, Rússia, Itália e Espanha, na Inglaterra o campesinato foi uma classe politicamente ausente.

A QUESTÃO RELIGIOSA

Além das questões sócio-econômicas responsáveis pelas revoluções inglesas do século XVII, as lutas de caráter político-religioso também foram determinantes e nesse sentido, é necessário entender as principais correntes religiosas desse período.

Henrique VIII criou a Igreja Anglicana



O "anglicanismo" era a religião oficial da Inglaterra desde 1534, quando o Parlamento aprovou o Ato de Supremacia e reconheceu a supremacia do rei Henrique VIII frente a Igreja Anglicana por ele mesmo criada, depois que o rei entrou em litígio com a Igreja Católica. Marcado por um sincretismo religioso, o anglicanismo possui uma forma mais católica e um conteúdo mais calvinista. Sua base social era representada por grupos favorecidos pelo Estado absolutista, como a grande nobreza e a burguesia monopolista.
O "calvinismo" desde meados do século XVII era a corrente protestante mais numerosa da Inglaterra, dividindo-se em várias facções, sendo a mais importante a dos "puritanos" representados principalmente pela média burguesia, contrária ao Estado absolutista e a religião oficial anglicana, que limitavam o direito de propriedade, fazendo com que os puritanos assumissem uma postura de oposição mais radical. Outra facção calvinista era a dos "presbiterianos", marcados por um comportamento mais moderado, de aceitação ao Estado absolutista, visto que sua composição social majoritária era formada pela alta burguesia e por latifundiários favorecidos pelo Estado. Os "anabatistas" constituíam o grupo calvinista mais radical. Eram socialmente formados por artesãos e camponeses pobres, que combatiam o Estado, reivindicando a devolução de terras e o sufrágio universal. Além de perseguidos pelo Estado anglicano, eram discriminados pelos puritanos que consideravam a pobreza como expressão da falta de graça divina.

A QUESTÃO POLÍTICA

"Gostaria de governar a Inglaterra à maneira francesa".
Essa afirmação, feita pelo embaixador espanhol na Inglaterra no final do século XV, caracteriza certos limites existentes ao poder absolutista inglês, já que desde a Magna Carta (1215), o Conselho da Nobreza, (depois o Parlamento) instituição que representa os cidadãos, passa a ter o poder "de direito". Em contrapartida, os reis da dinastia Tudor possuíam o poder "de fato" e pouco convocavam o Parlamento, que composto principalmente por elementos da burguesia e da gentry, não se opunha ao poder absolutista do rei, representante dos interesses dessas camadas.

A Rainha Elizabeth


Com a morte da rainha Elisabeth na Inglaterra em 1603 ocorre a passagem da dinastia Tudor para uma dinastia de linhagem escocesa, a dos Stuart. Enquanto os Tudor tinham representado um anglicanismo com mais ênfase ao conteúdo calvinista, favorecendo a burguesia, os Stuart valorizaram a forma católica do anglicanismo, condizente com os interesses da aristocracia contra a burguesia. Através do catolicismo ficava mais fácil justificar o poder absoluto do rei. Com isso, o Parlamento, majoritariamente burguês, assumiu uma postura de oposição identificada com os princípios calvinistas, em rejeição ao anglicanismo.
O primeiro reinado Stuart na Inglaterra, deu-se com Jaime VI, rei da Escócia que assumiu o poder na Inglaterra com o nome de Jaime I. Esse monarca, admirador dos reis franceses, queria implantar na Inglaterra um absolutismo de direito, tentando inclusive acabar com o poder nominal teórico do Parlamento, e iniciar uma política de perseguição aos puritanos. Para atingir esse objetivo, o poder real deveria ser considerado de origem divina, a exemplo dos reis da França, valorizando-se a forma católica do anglicanismo, identificada com a aristocracia contra a burguesia. De fato, pelo catolicismo era mais fácil justificar a origem divina do poder real. Com um governo de caráter pessoal, Jaime I dissolveu várias vezes o Parlamento e perseguiu vários grupos religiosos de oposição, inclusive os católicos.


Jaime I iniciou a Dinastia Stuart



Com a morte de Jaime I em 1625 assumiu o trono seu filho Carlos I e ao longo de seu reinado as lutas entre o poder real e o Parlamento se radicalizaram. Em 1628 o Parlamento impôs a Carlos I a "Petição de Direitos", determinando que impostos, prisões, julgamentos e convocações do exército somente poderiam ser executados após apreciação e autorização parlamentar. Carlos I reagiu, dissolvendo o Parlamento e governando de forma absolutista apoiando-se em seu "Conselho Privado" durante onze anos. Nesse tempo o rei, auxiliado por dois enérgicos ministros (o arcebispo Laud e Thomas Wentworth, conde de Stratford), procurou criar mecanismos para combater as forças contrárias ao absolutismo monárquico. Para obter recursos que sustentassem a máquina do Estado e controlar a vida econômica o rei restabeleceu uma série de medidas de caráter feudal, como o "Ship Money" (antigo impostos originalmente pago por cidades portuárias para defesa da marinha), que foi transformado num tributo nacional. Decisões como essa, provocaram protestos em toda Grã-Bretanha.
Na Escócia, onde predominava o calvinismo presbiteriano, os Stuart através do ministro Laud, tentam uniformizar o reino impondo o anglicanismo, o que provocou uma rebelião dos escoceses que invadiram o norte da Inglaterra. A primeira reação de Carlos I foi convocar o Parlamento, que se reuniu de 1640 até 1653, no período conhecido como "Longo Parlamento". Os deputados calvinistas fizeram o rei decapitar seus ministros. A partir desse momento o rei não tinha mais direito a um exército permanente e a política religiosa e tributária seria conduzida pelo Parlamento, que independentemente da convocação do rei, se reuniria regularmente a cada três anos.
Em 1641 na Irlanda católica inicia-se um levante separatista contra o domínio protestante dos ingleses. Na Inglaterra, os puritanos e o rei anglicano estavam de acordo com a necessidade de um grande exército para combater os católicos irlandeses, discordando porém, quanto a liderança do exército, já que os puritanos não acreditavam na capacidade do rei para chefia do exército. O rei ordenou então a invasão do Parlamento para efetuar a prisão de alguns deputados. Nesse mesmo momento começava em Londres uma revolta armada, onde as milícias passaram para o lado do Parlamento, iniciando-se assim, a Guerra Civil que corresponde à primeira fase da Revolução Puritana.
As revoluções burguesas na Inglaterra devem ser analisadas no processo de início da crise do Antigo Regime europeu. Historicamente, refletem a necessidade de superação do absolutismo, na medida em que esse sistema cada vez mais representava um entrave ao capitalismo, impedindo a livre concorrência e limitando o direito de propriedade. Foi nessa conjuntura que a burguesia passou a lutar pelo exercício do poder político como pré-condição para um mais amplo desenvolvimento do próprio sistema capitalista.

Imagens da Revolução Gloriosa


Revolução Gloriosa
A RESTAURAÇÃO DOS STUART

Com a morte de Oliver Cromwell, seu filho Richard, assumiu o cargo de Lorde Protetor. Sem o reconhecimento do exército, foi logo destituído, sendo o Parlamento convocado para legitimar o poder dos generais. Com o crescimento da mobilização das camadas populares, as elites assustadas, começaram a articular a restauração da monarquia. Em 1660, Carlos II, filho do rei decapitado, lançou a chamada "Declaração de Breda", onde prometeu governar mantendo a tolerância religiosa e respeitando o Parlamento e as relações de propriedade existentes. Com apoio de Luiz XIV, o "rei sol" da França, Carlos II converteu-se publicamente ao catolicismo, provocando a retomada da luta por parte do Parlamento, que em 1679 aprovou o "Habeas Corpus", garantindo aso cidadãos a segurança frente aos supostos abusos do governo. Em seguida foi publicado o "Ato de Exclusão", que impedia qualquer católico do exercício de funções públicas, incluindo a de rei. Com a morte de Carlos II (1685), subiu ao trono seu irmão Jaime II, que procurou novamente conduzir o país para o catolicismo, fortalecendo seu poder, em prejuízo do Parlamento.




Carlos II


Entrando em acordo secreto com Guilherme de Orange, príncipe da Holanda e genro de Jaime II, o Parlamento se mobilizou contra o rei, visando entregar-lhe o poder. As tropas abandonaram Jaime II e em junho de 1688 Guilherme de Orange era feito rei com o nome de Guilherme III. Este episódio é conhecido na história como "Revolução Gloriosa".
Sem derramamento de sangue e representando um compromisso de classe entre os grandes proprietários rurais e a burguesia inglesa, a Revolução Gloriosa marginalizava o povo além de mostrar que para acabar com o absolutismo, não era necessária a eliminação da figura do rei, desde que esse aceitasse se submeter às decisões do Parlamento. Representando a transição política de uma Monarquia Absolutista para uma Monarquia Parlamentar, a Revolução Gloriosa inaugurava a atual política inglesa onde o poder do rei está submetido ao Parlamento

sábado, 4 de abril de 2009

  • Maquiavel / MAQUIAVEL: IDEALIZADOR DO ESTADO FORTE

    Alguns escritores o identificam como "apenas" um historiador, outros dizem que além de historiador ele foi um importante filósofo político. A verdade é que Niccoló Machiavelli - entre nós Nicolau Maquiavel, nascido em Florença, Itália, em 03 de maio de 1469, dedicou grande parte de sua vida ao desenvolvimento e entendimento das maneiras de governar e "manipular" o poder. Pode-se dizer ainda que Maquiavel, com maestria desenvolveu a ciência política (a arte de governar), tendo como principal "engrenagem" o poder centralizado para a criação e defesa de um Estado forte. Dentre suas principais obras destaca-se "O Príncipe" - publicado em 1513. Muitos denominam esta publicação como um "tratado clássico da ciência política".Por outro lado, é prudente destacarmos a importância em identificar o "ambiente histórico" no qual Maquiavel cresceu - o Renascimento italiano. Nicolau viveu numa época de notáveis realizações da pesquisa histórica - apresentando preocupação com a crítica rigorosa das fontes de pesquisas e intercâmbio com outras disciplinas. Alguns críticos apontam que Maquiavel, em suas obras, revela uma certa falta de "sentido histórico". Este "sentido" existe, porém, de outra forma. Por outro lado, o ambiente político é também muito relevante para entendermos alguns pontos do pensamento de Maquiavel e sua teoria do Estado Absoluto. Muitos o apontam como sendo o fundador do pensamento político moderno. Durante os séculos XV e XVI o cenário político da Itália atravessava momentos desastrosos com respeito a sua governabilidade. Na época do renascimento havia uma expectativa de afirmação da monarquia absolutista. Os Estados Pontifícios eram controlados pelo Clero de maneira soberana. Invasões estrangeiras também contribuíram para o cenário caótico da província - destes podemos destacar o saque de Roma em 1527 - realizado por tropas do então imperador Carlos V. Também na Itália existiam ainda cidades - livres como: Gênova, Florença, Milão, etc. Já em outras localidades da Europa, havia uma proliferação do poder, que era distribuído da seguinte forma: Igreja Católica, Nobres, cidades - livres, Tiranos e reis estrangeiros.No entanto, diferentemente da Itália, nestas regiões se desenvolveram as monarquias nacionais, com reinos cada vez mais poderosos, e esta força real trouxe a capacidade de superar o "comando divino".Quando nos referimos as origens da idéia de concentração do poder, podemos dizer que parte do processo de formação do Estado Absolutista deu-se entre os séculos XV e XVIII - quando os reis procuraram criar suas próprias instituições (Conselho, exércitos, corpo de funcionários). A consolidação deste processo ocorreu em meados do século XVIII, com a presença da burocratização do processo político.Para Maquiavel - se fazia necessária á intolerância religiosa como requisito na formação deste Estado forte. Ele entendia ainda que desta forma, seriam extintas as invasões estrangeiras que tanto atingiam os assuntos internos da Itália.O fortalecimento do Estado passa a ser, portanto, algo necessário. A valorização da moral sofre a transição da esfera pessoal para universal, abandonando definitivamente o contexto divino. Segundo Maquiavel, o Estado com poder centralizado proporciona proteção, inclusive para seu condutor. Com isto, a idéia de liberdade do homem é posta de lado, abrindo espaço para a capacidade deste mesmo homem viver em sociedade, sempre em detrimento do poder centralizado.Uma vez consolidado o Estado de poder absoluto, é preciso enfrentar o desafio de mantê-lo como tal. Os caminhos percorridos para este fim independem conquanto que permaneça com a mesma característica de centralização. O Estado nesta condição é capaz de produzir suas próprias leis - um Estado autônomo e criador de política. Estas são estabelecidas também para conter os conflitos sociais - que no início serviram como "combustível" para alimentar a necessidade da formação do Estado Absolutista.A racionalidade é outra característica que precisa estar presente no comando do Estado - tal dimensão independe da ação tomada, desde que seja mantido o objetivo de atender (completamente) os interesses do poder centralizado. Seu assessoramento deve ser composto por personagens nacionais, para que assim, reúna capacidade de enfrentar, quando preciso - seus inimigos sem demonstrar fraquezas e, sobretudo, manter distante a criação de conflitos internos contra seu próprio condutor

    Utopia
    (Thomas More)

    Embora Utopia signifique lugar nenhum, ela representa uma ilha com uma comunidade perfeita. O livreto descreve o encontro de Thomas More, seu amigo Peter Gilles, e um velho estrangeiro chamado Raphael Nonsenso no jardim do hotel de More, na Antuérpia. Raphael é um antigo marinheiro que viajou com Américo Vespúcio. Após a morte de Vespúcio, Raphael continuou a viajar para novos lugares, incluindo Utopia.Sua descrição da terra ideal compreende o escopo da estória. Utopia é um lugar onde não há propriedade privada, onde todos trabalham, mas sem exageros. Os moradores de Utopia trabalham por três horas pela manhã e por três horas a tarde com um intervalo de duas horas no meio. Os empregos não dependem da pessoa ser homem ou mulher ou da sua formação anterior. Todos em Utopia vestem uma mesma roupa lisa. Os moradores de Utopia adultos não usam jóias; eles consideram os metais preciosos e as jóias como brinquedos para crianças. Um trecho do livro descreve a chegada de embaixadores estrangeiros. Eles usavam as jóias extravagantes e as vestimentas das cortes européias. Quando eles desembarcaram, eles ouviram, por acaso, as crianças rindo e dizendo: "Olhe para os bebezões". Os embaixadores logo perceberam que os seus jogos de prestígio não iria funcionar em Utopia, e eles tiraram as jóias. Embora nós, como leitores, podemos ser tentados a pensar que estas são as visões idealísticas de More, assim como o personagem de sua história, ele leva um certo tempo para aceitar todo o estilo de vida utopiano.Entretanto, Utopia é um ataque amargo a sociedade do renascimento cristão europeu. Ironicamente, os habitantes de Utopia são pagãos, apesar de que, na prática, eles são melhores cristãos que os cristãos europeus. Em outras palavras, os habitantes de Utopia são pacíficos, amáveis e respeitáveis. É ensinado a cada criança a cultivar a terra e sua educação artística liberal não tem fim em uma determinada idade. Entretanto, More não concorda com todas as práticas dos moradores de Utopia, ele permanece com muitas de suas idéias. Assim, o livro termina com More dando conta de que Inglaterra e Europa jamais irão adotar uma visão utopiana.
  • A Reforma Religiosa

    Foi o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela Igreja de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, que enfraqueceram a Igreja permitindo o surgimento de novas doutrinas religiosas. A Igreja estava em crise, a burguesia crescia em importância, o nacionalismo desenvolvia-se nos Estados modernos e o Renascimento Cultural despertava a liberdade de Crítica. O aumento populacional somado às transformações que vêm junto com esse aumento acarreta em um baque entre a Igreja e essas transformações. Os intelectuais das cidades pensam hipóteses, passam a ter idéias, problemas que antes não existiam. O termo “Igreja Católica” é posterior ao Concílio de Trento, uma forma de diferenciação perante os protestantes. Antes só existia a Cristandade.A esse movimento de divisão no cristianismo e surgimento das novas doutrinas dá-se o nome de REFORMA e à reação da Igreja, realizando modificações internas e externas, de CONTRA-REFORMA. Contudo, esse movimento foi precedido por várias manifestações nos séculos anteriores, mas nenhuma delas conseguiu o rompimento definitivo com a Igreja Romana. Dentre elas, vemos:- Heresias Medievais- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII); - Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);

    - Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415).OS primeiros questionamentos são referentes à questão das Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o comprador de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório, era um comércio em vista da salvação), Simonia {comercialização de coisas sagradas (Cargos eclesiásticos, cobrança por sacramentos, objetos...)}, celibato, culto às imagens, excesso de sacramentos, atitude mundana do Alto Clero, dentre outras. Havia um abismo muito grande entre o que a Igreja pregava e o que fazia.

    PRINCIPAIS REFORMADORES: REFORMA LUTERANA

    A Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero). Lutero foi excomungado em 1520. Ele queima publicamente a carta do papa (Bula papal), traduz a Bíblia para o Alemão, casa-se com uma ex-freira, fica abrigado na Saxônia. Eis suas reivindicações e críticas principais: Substituição do Latim pelo idioma alemão nos cultos religiosos; Questiona a grande quantidade de sacramentos (Preserva dois sacramentos: batismo e eucaristia); Livre interpretação da Bíblia; Contra o Celibato; Rejeita a Hierarquia Religiosa da Igreja de Roma; pregava a Salvação pela fé; Negava a Transubstanciação – afirmava a Consubstanciação (misturados); Pecado Original: Marca do gênero Humano (nem Cristo, nem o Batismo o retiram);O Luteranismo expandiu-se basicamente no Sacro Império Romano-Germânico e nos países escandinavos (Suécia, Noruega e Dinamarca), regiões essencialmente rurais, pouco desenvolvidas em termos comerciais. Através de suas idéias, eles desapropriam as terras da Igreja.

    REFORMA CALVINISTA – J. Calvino (1509-1564) era francês, que inicia sua ruptura em Genebra, Suíça, por volta de 1536. Lá começa a publicar estudos sistemáticos sobre a nova religião. Funda uma nova doutrina que expande a Reforma. A burguesia dessa cidade havia adotado os princípios da reforma para lutar contra seu governante, o católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador. Ele divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da Salvação. Diferente de Lutero (salvação pela fé), ele defendia a idéia de que a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nasce predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a sua condenação. Calvino tornou-se todo-poderoso, conseguindo impor sua doutrina, interferir nos costumes, nas crenças e na própria organização político-administrativa da cidade. O Calvinismo propagou-se rapidamente atingindo a França, a Holanda, a Inglaterra e a Escócia.

    Eis algumas de suas teorias e questionamentos:

    - A riqueza material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo. Essa teoria é assimilada pela burguesia local, que justificava não só seu comércio, como também as atividades financeiras e o lucro a elas associado. Ele justifica as atividades econômicas até então condenadas pela Igreja romana.- Grande rigidez na moralQuestiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.- Livre Interpretação da Bíblia;- Nega o culto aos santos e a Virgem;- Questiona a autoridade do Papa;- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;- Questiona o Celibato do clero;- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;

    REFORMA ANGLICANAOs ingleses, durante a época dos Tudor, também criticavam os abusos da Igreja Romana, a ineficiência dos tribunais eclesiásticos e o favoritismo na distribuição de cargos públicos para membros do Clero, além de queixar-se do pagamento e do envio de dízimos para Roma. Durante o governo de Henrique VIII (1509-1547), a burguesia fazia pressão para o aumento do poder do parlamento. O rei, necessitando aumentar as riquezas do Estado, confisca as terras da Igreja, o que gera desentendimentos com o Papa. Isso se agrava quando o monarca solicita a anulação do casamento com Catarina de Aragão. Ele não tinha sucessores masculinos, temia que seu trono caísse em mãos espanholas. Toda a nação, com medo deste fato, apóia esse pedido. O Papa Clemente VII nega o pedido. O Rei rompe com o papado e faz uma reforma na Igreja Inglesa. Obriga seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe fidelidade e obediência. Obtém do clero inglês o divórcio e se casa com uma dama da corte, Ana Bolena. O Papa tenta intimidá-lo excomungando-o, mas não adianta. Em 1534, Henrique VIII decreta o Ato de Supremacia, que consolida a separação entre a Inglaterra e o papa. Torna-se o chefe da Igreja de seu país. A Reforma anglicana, na prática, apresenta poucas modificações com a Igreja romana: Questiona o Culto aos santos; A autoridade máxima é o Rei e não o papa; Questiona o culto às relíquias; Prega a popularização da leitura da Bíblia. A Reforma anglicana resolveu, na prática, dois problemas para a monarquia: a questão da herança do trono e com a venda das terras da Igreja para a burguesia e nobreza, dá um suporte financeiro para a Coroa. O Anglicanismo se consolida no reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII, que renova seu direito de soberania real sobre a Igreja, além de fixar os fundamentos da doutrina e do culto anglicano na Lei dos 39 Artigos, em 1563.OBSERVAÇÃO - O Calvinismo também criou raízes na Inglaterra. Seus adeptos, os puritanos, iriam entrar em choque com os anglicanos, gerando inúmeros conflitos no século XVII, que levaram às imigrações maciças para a região da Nova Inglaterra, na América do Norte.

    CONTRA-REFORMA
    O avanço do Protestantismo, não só neste momento, levou a Igreja Romana a se reorganizar. Foi um movimento de reação ao protestantismo. A Igreja precisava auto-reformar-se ou não sobreviveria, pois precisava, ainda, evitar que outras regiões virassem protestantes. Esse movimento de reforma interna já existia, mas é nesse momento que ele é aprofundado. Entre 1545 e 1563, foi convocado o CONCÍLIO DE TRENTO, onde houve reafirmações e mudanças. Dentre elas:- Esclarece a Doutrina;- Conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia; - Inicia a redação de um Catecismo; - Criação de Seminários para a formação de sacerdotes; - Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem; - Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola; - Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras; - Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV; - Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja” - Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma; - Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;As orientações do Concílio de Trento guiaram os católicos de todo o mundo durante 400 anos. Houve o Concílio Vaticano I (08/12/1869 - 20/10/1870), convocado pelo Papa PIO IX (1846-1878), mas que foi interrompido devido à Guerra Franco-Alemã que havia iniciado. As maiores mudanças começariam a acontecer apenas em 1962, quando o papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II (11/10/1962 a 07/12/1965), para redefinir as posições da Igreja e adequá-la às necessidades e desafios do mundo contemporâneo.